Falar em idiomas, naturalmente, nos remete à língua de cada povo, de cada nação, é a expressão viva da linguagem.
Sabemos que, com a força do idioma, é possível forjar uma nação, e, consequentemente, por meio dele, conseguimos ver o mundo à nossa volta e, assim, descrever tudo que há em sua esfera.
Mas sempre foi assim?, vários países e vários idiomas? A gente sabe que não.
O que sabemos é que hoje fazemos parte de uma população de quase oito bilhões de habitantes no mundo, distribuídos em quase duzentos países e falando mais de sete mil idiomas.
De acordo com o Rousseau, “a motivação para a linguagem humana vem da necessidade de comunicação, uma vez que os homens constituem uma sociedade.”
O filósofo suíço, em seu Ensaio sobre a origem da línguas, pressupõe que a evolução da língua se faz de acordo com as formas de vida social.
Rousseau relacionava a língua ao “estado de sociedade”.
Todavia, o grande questionamento sobre a origem e evolução da linguagem já existia e era bastante complexo.
Em primeiro lugar, porque se buscava em Deus a explicação para o dom da linguagem e, depois, o homem também queria entender a diversidade das línguas no mundo.
Na verdade, o questionamento sempre foi se todas as línguas tinham se derivado realmente de uma única, falada igualmente por todos os homens e, em caso afirmativo, o que aconteceu para que depois se fizessem tão diferentes e qual foi a razão de tanta variação?
Bem, esse assunto e esses pressupostos já foram objeto de muitas discussões, por isso irei me ater a dois pontos que acho interessante, quando o assunto é idiomas e surgimentos da linguagem.
Trata-se sobre o que ocorreu no início da civilização hebraica e grega, e do acontecimento que sobreveio com esses dois povos, suas diásporas.
Então vamos lá!
A história do povo de Israel começa com Abraão, há quase dois mil anos a.C.
Mas, quero voltar mais um pouquinho, num acontecimento que está descrito no primeiro livro da Bíblia, para os cristãos e, para os hebreus, está contido na Torá, trata-se do livro de Gênesis.
As diásporas dos hebreus
Por que uni diáspora aos idiomas?
O deslocamento forçado, o contato imediato com outras culturas fazem surgir novas formas de falar, novas linguagens, novas formas de comunicação.
Na verdade, a palavra diáspora – que significa dispersão, expulsão e exílio – está relacionada ao povo hebreu – a diáspora judaica – e define as migrações, ou expulsão pelas quais o povo judeu passou e, como esses deslocamentos forçados ou não, fazem parte da vida, do pensamento deste povo e na formação das comunidades judaicas em todo mundo.
A primeira diáspora com a qual temos conhecimento se refere para alguns, em uma lenda, para outros, história verdadeira da Bíblia, no Antigo Testamento para cristãos, e na Torá para os hebreus. Trata-se do episódio da Torre de Babel.
A Torre de Babel
A história da Torre de Babel começa após a passagem do dilúvio, há mais de dois mil anos a.C.
Em Gênesis 9:1, Deus abençoou Noé e a seus filhos os quais tinham como missão repovoar a terra e lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra”.
Os filhos de Noé foram então para a região de Sinar – nome bíblico para a planície chamada Mesopotâmia, situada entre os rios Eufrates e Tigre – e, criando uma cidade chamada Babel, habitaram ali.
E “em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar”. (Gênesis 11:1). Dessa forma, havia entre os homens compreensão e cooperação mútuas.
Todavia, esses homens planejavam um empreitada jamais vista. Eles pretendiam edificar a mais ambiciosa das construções: uma enorme torre “cujo tope chegue aos céus e tornemos célebre o nosso nome”. (Gênesis, 11: 4)
Sabendo disso, o Senhor desceu a terra para ver o que os descendentes de Noé estavam fazendo.
Ao ver a torre, “Deus disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem”. (Gênesis, 11: 7)
E, assim, confundiu suas línguas para que não pudessem se entender.
Daí em diante, foi impossível a comunicação. Os homens não conseguiam mais se entender.
Em seguida, “o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra”. (Gênesis, 11: 8)
De maneira que, incapazes de trabalhar juntos, os homens deixaram a construção, a cidade e se dispersaram em diferentes direções.
Tal torre inacabada ficava em Babel ou Babilônia.
Para alguns especialistas, a confusão de línguas pode ter aí sua origem: Babel, significa confusão, ou seja, local onde houve a confusão e os estranhamento das línguas.
Mais a frente, quando falar da diáspora grega, vocês irão perceber que lá também, quando os gregos não entendiam a língua dos estrangeiros, passaram a designá-los como bárbaros.
Dessa forma, a repetição da sílaba “ba” pode representar confusão, bafafá, balbúrdia.
Hoje, quando queremos mencionar sobre as tentativas de uma criança que está aprendendo a falar, dizemos que ela está balbuciando as palavras ou, ao contrário também, quando queremos dizer que alguém está a falar um monte de coisas sem sentido, sem importância, dizemos que o que ela diz é um blá, blá, blá.
Muitos relacionam essa passagem bíblica, como uma forma de explicarem a origem da diversidade de idiomas.
Para comprovar esse acontecimento, em 1913, o arqueólogo alemão, Robert Koldewey encontrou o lugar onde a torre começou a ser construída, na região central do Iraque.
O episódio em Babel fez com que a população que ali ficava se dispersasse por vários lugares na terra, ocorrendo, dessa forma, uma das primeiras diásporas.
Dali por diante, os homens começaram a criar novas cidades, sempre aperfeiçoando suas habilidades. Alguns com a força física, outros com o intelecto.
E, com essa combinação, foi possível aos homens a criação de cidades e formas de protegê-las, cuidando para quem entrasse não causasse problemas.
Com essa expansão, a população cresceu, o comércio se fortaleceu e a linguagem, mais elaborada.
Outras dispersões: A História de Abraão
A história de Abraão é narrada no Gênesis, o primeiro livro da Bíblia e data do ano de 1900 a.C.
Deus diz a Abraão para sair de UR, abandonar seu povo, deixar sua parentela e se mudar para uma nova terra, Canãa. hoje, Israel. E assim Abraão fez.
Jacob e seus filhos descem ao Egito
Jacó, neto de Abraão, percebendo que Canaã estaria em pouco tempo assolada por terrível seca, decide ir para o Egito em busca de alimentos, caso contrário, poderia pôr em risco a sobrevivência de sua família.
Jacó, que também recebeu de Deus o nome de Israel, por ter lutado com um anjo, chega com toda sua família no Egito e por lá vive até o ano de sua morte.
Com o passar do tempo, o Egito já não é mais o mesmo nem o Faraó que tão bem recebeu Jacó vive mais.
Em decorrência, os hebreus crescem em número no Egito. O Faraó então, temendo o crescimento da população, torna os hebreus escravos.
Por conseguinte, os hebreus vivem na condição de escravos por quase seis séculos, até que surge seu grande líder, Moisés que reuniu todos os hebreus para partirem para a Terra Prometida.
Assim, entre os anos de 1500 e 1200 a.C teria ocorrido o grande Êxodo que durou 40 anos e, novamente, os hebreus voltam à Terra Prometida.
O cativo na Babilônia
Até que próximo aos anos 600 e 700 a.C, com o reino de Israel dividido 2, reino do norte, Israel e reino do sul, Judá, a cidade de Samaria, capital de Israel, torna-se subjugada ao domínio da Assíria.
E a Babilônia, sob o comando de Nabucodonosor, conquista o reino de Judá, destrói o Templo de Salomão, em Jerusalém, e leva quase todos os hebreus novamente sob a condição de escravos.
Mas Ciro, o grande, em 838 a.C. conquista o império babilônico e liberta os hebreus do jugo babilônico e permite que eles voltem a Jerusalém.
Muitos permaneceram na Babilônia, contudo, aqueles que voltaram, se depararam com sua Terra Prometida ocupada por outros povos e, assim, muitos migraram para outras terras.
Um dos últimos acontecimentos que colaborou fortemente para mais uma dispersão: a invasão do Império Romano que impôs a destruição do Estado judeu no primeiro século d.C.
A continuidade da diáspora
E, assim, uma nova diáspora se sucede aos judeus que chega a Ásia, norte da África e Europa.
Apesar das grandes dispersões, os judeus se estabeleceram em várias regiões do mundo, em pequenas ou grandes comunidades.
Ainda que não possuíssem pátria ou nação, ainda que viviam a ausência de um estado, os judeus conseguiram preservar sua identidade cultural, por meio da religião, dos costumes dos hábitos e do idioma.
Diante de inúmeras travessias, a começar da primeira, quando Deus pediu ao patriarca Abraão para deixar UR, até aos dias de hoje, ocorreu uma diversidade de grupos judaicos.
Contudo, os judeus preservaram costumes e mantiveram sobremaneira o idioma.
Há uma dinâmica peculiar que tornam os judeus residentes de sua nação ainda que vivendo em outros países.
Ainda que as diásporas tenham forçado os judeus a viverem separados por séculos, a distância entre eles criou uma característica nobre: a de se preservarem como nação, unidos pela história sagrada e terrena, eles vivem Israel, fora de Israel.
As diásporas gregas
A história da Grécia Antiga aconteceu na Península Balcânica, estendendo-se até as Ilhas do Mar Egeu e o litoral da Ásia Menor.
O mundo grego não era exatamente um território unificado. Na verdade, a grande herança, o grande legado desta cultura foi a religião mitológica, os costumes e o idioma que sempre foi compartilhada pela grande população.
Independente das diásporas, o povo grego tinha uma organização política e social de forma semelhante e, especialmente, falavam o mesmo idioma.
No século XII a. C, chega ao fim a Civilização Micênica. Foi neste período que e os dórios invadem o Grécia pelo litoral. Tal invasão, faz com que a sociedade litorânea fuja para o interior do país.
Conhecidos por usar amplamente a violência e, consequentemente, adquirida habilidade na construção de armas de ferro, os Dórios chegaram ao território grego, provocando uma imensa dispersão dos povos, especialmente, para o interior das Ilhas do Mar de Egeu e a costa da Ásia Menor, ocorrendo assim a primeira diáspora grega.
Neste momento, os gregos tomam em direção ao interior da Grécia, formando as pequenas sociedades – os genos.
Essa comunidades gentílicas são familiares, pequenos grupos que vivem isolados um dos outros, tendo como líder os frátrias.
Geralmente o líder frátrio era o indivíduo mais velho da região e que governaria todos os outros.
No período entre os séculos 10 ao 8 a.C, houve um crescimento demográfico dentro dessa sociedade, iniciando assim algumas divergências, principalmente, em razão da ausência de terras férteis.
Com técnicas agrícolas pouco desenvolvidas, os genos não conseguiam acompanhar a velocidade com que as comunidades gregas se ampliavam, de maneira que, com o passar do tempo, surgiram dificuldades para sustentar toda a população.
Subitamente, tudo que era usado de maneira coletiva passou a ser dividido entre os membros do genos, e os que eram mais próximos do pater eram sempre privilegiados e recebiam as melhores terras.
Os pequenos proprietários, os artesãos e trabalhadores, que até então eram livres, passaram a ser subordinados ao comando dos grupos beneficiados.
Restava a esses trabalhadores, que não tinham terras, trabalhar para os indivíduos favorecidos, tornando até escravos.
A mudança foi inevitável, e as sociedades gentílicas passaram a ser controladas por aqueles que tinham poder.
A falta de terra cultiváveis, o caráter peculiar dos frátrias, cuja administração favorecia aos mais próximos, para se tornarem donos das terras, ocasionou, mais uma vez, a desintegração dos genos.
E de comunidades pequenas, os genos tornam-se tribos, formadas por grupos de frátrias, até chegar à pólis grega e à formação das primeiras cidades-Estado da Grécia Antiga e o fim das comunidades gentílicas.
Cada cidade-Estado era independente e autônoma política, econômica e militarmente.
Com o fim da sociedade gentílica, novas buscas por terras surgiram e o deslocamento dos gregos se estendeu ao longo da costa mediterrânea, em busca de melhores oportunidades de vida e terras férteis.
O gregos então passam a colonizar o Mediterrâneo, Ásia Menor e Norte da África, da Península Itálica, Ibérica, entre outras regiões do Mar Egeu.
Esse forte desejo de continuar em sociedade leva à Segunda diáspora grega.
Mas uma coisa todas tinha em comum a mesma herança cultural: o idioma.